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domingo, 6 de maio de 2012

Será hora de rever nossos conceitos?

Como todo mundo deveria sabe, essa semana marca oficialmente o final da Segunda Guerra Mundial. Aqui na Holanda essa é uma questão muito importante e levada super à serio. No dia 4 de maio às 20 horas o país para por 2 minutos para lembrar os mortos durante a guerra, fazemos 2 minutos de silêncio e se você estiver dentro de um ônibus, trem, etc, eles desligam os motores aonde estão e ficam parados por dois minutos. No dia 5 de maio é feriado nacional e o país se enche com festas e shows pra comemorar a desocupação alemã do território holandês. É o único feriado holandês que curto, porque o dia da rainha é uma piada que não se pode levar a sério de jeito nenhum. 

Enfim, ontem a gente saiu com alguns amigos pra comemorar tanto o dia da libertação quanto o aniversário do Stefan que foi no dia primeiro. Acabamos bebendo um pouco demais e ele acordou numa ressaca brava hoje. Então passamos o dia todo morgando em frente a TV. Como domingo nunca tem nada de interessante na TV durante o dia, a gente passou o dia todo assistindo documentários sobre a Segunda Guerra no Discovery Channel. Essa série de documentários se chama Apocalypse e é muito bem feita, ao invés deles se concentrarem na tragédia de alguns indivíduos pra nos fazer chorar, como alguns documentários fazem, eles se concentraram só nos fatos históricos e portanto eu aprendi muito ao passar a tarde toda assistindo. Aprendi inclusive que o que o Japão estava fazendo na Asia durante aquele período é muito pior do que a Alemanha tava fazendo na Europa. Mas não é sobre isso que eu quero falar nesse post. 

Antes de eu continuar eu quero te fazer refletir sobre algo. Se houvesse uma lojinha na esquina da sua casa e o dono dessa lojinha foi um nazista ativista que matou e/ou torturou judeus com as próprias mãos durante a guerra, você ainda assim compraria nessa lojinha? Você teria uma relação normal com o dono dela? Você conseguiria lidar com o fato de que de alguma forma você está financiando o nazismo? Pois é, complexo né? 

Mas porque estou falando sobre isso? Por que durante a minha tarde de Segunda Guerra, entre um cochilo e outro em frente a TV, eu escutei o nome de um designer de Sttutgart chamado Hugo Boss. Pois é, a minha reação foi a mesma que a sua agora. Que Hugo Boss, o mesmo da marca? O mesmo que faz o perfume masculino mais gostoso que existe? Não pode ser!! Mas é, eu fui conferir na Wikipedia e é ele mesmo! A marca dele foi à falência na década de trinta e com a ajuda do partido nazista ele conseguiu se reerguer. Ele não só era um nazista ativista como "doava" parte da sua renda pro partido. Além de tudo ele usava judeus aprisionados para testar seus novos produtos e os obrigava a trabalhar em sua fabrica. Sim, a marca Hugo Boss se reergueu em cima de trabalho escravo, como se ser nazista já não fosse o suficiente. 

Então conversando com meu marido (que é historiador formado, pra quem não sabia), ele me falou que não só o Hugo Boss ficou rico em cima do massacre judeu, mas várias marcas cresceram e prosperaram em cima disso. Existem inclusive marcas que judeus no mundo todo se recusam a usar porque eles de alguma forma contribuíram para o Holocausto.

O meu objetivo com esse post não é condenar quem usa essas marcas, tanto porque a grande maioria das pessoas nem devem saber, assim como até hoje eu não sabia sobre o Hugo Boss. Eu só queria que a gente começasse sim a questionar o comportamento da nossa sociedade como um todo. Do que adianta fazer um feriado nacional, fazer documentários sobre as atrocidades da guerra e tudo mais, se várias das pessoas envolvidas não só nunca serão punidas mas continuam sendo um símbolo de poder no mundo. Quase 80% de todos os produtos que consumimos em nosso dia-a-dia é de alguma maneira relacionado à algum ditador, sendo ele ainda um ditador como em vários países africanos ou algum ditador do passado. De alguma maneira, tudo que faz o capitalismo girar tem alguma marca de sangue. Mas isso não vai me fazer deixar o meu estilo de vida, só vai me fazer começar a ver o mundo com outros olhos e perceber que nada é o que parece. 

É hora de mudar nossos conceitos, porque um cara como Sadan Hussein tem que pagar por seus crimes mas Hugo Boss não? Afinal, ele morreu em 1948 mas a sua família toda era nazista e eles continuam aí, enriquecendo com a industria mais ridícula que existe, a indústria da moda. 

3 comentários:

  1. Liss, quase todas as marcas alemas tiraram proveito da guerra e contribuiram para o partido nazista, inclusive a volkswagen, bmw como o Iwan esta citando aqui agora. Eu diria ainda mais, sobre não prestar atenção ao que consumismo, muita gente diz amar os animais e compra produtos testados, compra de marcas que usam o trabalho infantil... enfim triste.

    beijos

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  2. "a industria mais ridícula que existe, a indústria da moda" - discordo, pra mim eh a de armas...

    Agora, eu nao sabia sobre o Hugo Boss... Entendo e concordo com o tema do seu post, mas acho que nao eh porque o cara fez isso nos anos 40 que todo mundo que trabalha com isso hoje concorde com ele...

    Eu sou amiga de uma moca que eh neta de uma enfermeira alema que lutou na segunda guerra, que seguia Hitler e era do partido nazista... Nem minha amiga, nem a mae dela tem qualquer simpatia pelo o que a avo fez... Sera que os filhos e netos do Hugo Boss tem?

    Tambem tenho outro amigo, alemao, que eh neto de um coronel da SS... Ele tambem nao tem nada com isso - e as empresas da familia dele estao ainda ai...

    Se eu sei que alguem hoje eh racista, fascista ou nazista, eu deixo de comprar os servicos dessa pessoa, mas eu tambem tento nao culpar toda a familia, neh?

    Eu acho que o ponto que a Sil colocou acima eh tambem bem serio, sobre usar produtos que sao testados em animais ou que vem de paises muito pobres e as custas de mao de obra escrava...

    as pessoas parecem nao se importar com nada disso...

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  3. Não sabia do Hugo Boss, mas outra que era notoriamente anti-semita e ativamente contribuiu com informações para o alemães na época da ocupação nazista em Paris foi Coco Chanel.

    Acho complicado ter um pai, avô ou bisavô que participou ativamente em um massacre como holocausto. A mancha, na minha opinião, marca os descedentes e não sei se conseguiria ser amiga sabendo disso. Minha cabeça não consegue ser tão aberta, mesmo anos após o ocorrido.

    Mas falando em rever conceitos, o que eu não entendo foi essa hipocrisia holandesa de permitir a Máxima, filha de um ditador assasino da Argentina, ser mulher do príncipe herdeiro. Aí veio Mabel e o Friso foi obrigado a renunciar ao trono pq ela foi ex-namorada de um traficante. Tratamentos diferentes, e sinceramente, acho muito pior a situação da Máxima, pois as filhas tem sangue assassino nas veias e a mais velha será rainha da Holanda. Mas o povo adora a Máxima, é a Lady Di da Holanda. Deve ser pq o Willem Alexander é uma mosca morta e ela tem carisma de sobra. Foi mal, desvirtuei o seu post original.. ;)
    bjs,
    Paula

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